domingo, 30 de novembro de 2008

cheguei minha cidade de plástico cinza eletrônica

cheguei do centro da terra pela escada rolante
pesei seu solo de cimento

som de animais motores
no caminho até minha casa

dentro de um portão
dentro de uma porta
depois outra
cruzei com essas espécies que sem casa 

vivem a céu aberto 
ar carbônico e cama de papel
desolhadas
minha doce, miserável cidade antivegetal 

ave algum santo social
se é que há algum
você possa algum dia deixar de ser pólis antigente


sábado, 29 de novembro de 2008

“Se FOGO não queimasse eu tomava banho de labareda.”
Trecho da música do espetáculo, FESTA DO FIM, da Formação 09 da ELT.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Trechos

dessa ilusão da atualidade
não sei dizer ilusão
ainda é fé sem piada
(querendo que fosse verdade tudo que aconteceu)
verdade inédita
simplificada
deu em dois
e pronto
19/11/08

ando com um arrepio logo abaixo da sétima vértebra, eu paro a ação, é assim, e se espalha e flutua
o arrepio, cabeça , ombros, coluna,
vibra
e aí vai vai
até escapar em um sorriso que vira risada.
26/11/08

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Em que parte mesmo?

em que parte estávamos mesmo?
estávamos sempre no começo, achava tudo um susto bom na ideia, estar ali,
sempre começando com você todo em partes
em que parte estávamos mesmo?
achava que sempre estávamos no meio, um meio sem fim, era sempre meio, porque assim dá menos
é sempre uma intenção em desmantelo
em que parte estávamos mesmo?
estávamos sempre em desmantelo
cumprindo função de de repente, e se?
quase
e no seu rosto que parece um sorriso com uma risada
encontro ali, estranha, toda rindo
quase
em que parte mesmo?
fim de algum lugar dividido
em que parte mesmo?
sem parte

24/11/08

domingo, 23 de novembro de 2008

afta de domingo

li chacal:
“A paixão é pra disfarçar solidão tão cheia de aflição que podia ser uma afta.”

vou para o samba
afogar as pernas e esquecer a afta

eu-naufrágil

vestida de branco eu era uma barca frágil enfeitada de amor, pretendendo doçura.o samba, de música, passou longe e almas, era pretexto de naufrágio , batucada de desordem, pétalas se afogando em ondas. não amor.
vestida de branco e enfeitada de flor as raízes grudadas aos meus pés, tinham, arrancadas da terra, eu-muda e flor, oferenda de não-santo. nau-frágil pronto para mar-desabar
a flor doçura
amor
e todos os descuidos

samba do desamor, 14 de outubro (de fins) de 2007.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

verbo aberto

o verbo todo aberto e seu fundo
anti lucidez de ruído
prosa-poética
a poesia e seu fundo sem chão
eu o verbo  aberto
ação fluida
mulher-tambor batucando alguma intenção
cacofonia  sutil:
de como se captura o homem na terra sem que ele mesmo perceba já estar jardim e seu verbo
poema aberto
e fundo sem chão


(exercício de resumo do poema)

ação fluida
poema aberto
e fundo sem chão

Blá Blá de Metainstante

o tal “instante já”, de Clarice, é mais o fim em si dos momentos em constante destruição.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

primavera negra

o moço negro das sutilezas misteriosas
faz música fora dos nossos corpos
e silencio dentro das palavras
(de declarada beleza dizendo belezas)
não esperava aquele beijo
e cintura de corpos

21 de primavera de 2008.

ORAÇÃO DE NÃO EDUCAÇÃO

um ermo.
sirvo-me de Manuel de Barros e seu ermo para invadir o meu.


tenho um ermo no peito. invadido sempre por fugitivos que vêem algum mistério parecido com uma festa na vastidão.
a coisa começou desde sempre pequenina, ali, nas bagunças dos dias, sobrevivendo ao não.
criei um nada orgânico, fiz da minha imaginação spray poeticida, anti-nãos, luminária do canto secreto do meu olho, música vadia para obra ao acaso das invenções.
criei a ideia como a amiga imaginária, senhora, rainha e mãe de santo desse ermo no peito.
ás vezes, uma má educação contribui para a formação do individuo, até hoje me deseduco diariamente, ou semanalmente,  não passa de um mês. alimentando o corpo ocupado de obras ao acaso originarias de uma péssima educação.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Segundo Rodolfo, estou muito feia-largada para uma menina,
Ser uma menina bonita empostada, hoje, quem? Não é comigo.
Sou Maria, a feia, sem vestido de flor, apenas uma ressaca sem crise muito a vontade com a descompostura temperada de água e sal e perfume de barata.

...

Quis fazer poesia de quase tudo, do bicho que andava no meus óculos enquanto lia Ana Cristina Cesar, ao corpo bonito do moço bonito, que amanheceu na minha cama esses dias. Então fiz poesia do rosto bonito do moço de corpo bonito, então fiz:
Seu rosto parece um sorriso com uma risada, e fico toda!
Fim.
17/11/08

CHUVA DE LADINHO

isto de ter essas mesmas palavras, esses mesmos pensamentos, esses mesmos reclamares, já deu de velho banguela-ranzinza ,cuspindo para fora da janela com o carro em movimento com o dedo no nariz se benzendo na cruz  curvado-se deselegante em cumprimento ao rei,
em não sorrir na parada de ônibus e nem no ônibus, perguntar se esta tudo bem e olhar no relógio, falar do tempo da temperatura, ter sempre sono, quere sempre o fim do dia,
isto desse amontoado de mesmos,faço uma farofa para as cucuias que o pariu, do cu de algum lugar indesejado, como acordar as cinco da manhã na segunda-feira de chuva de ladinho, sabe?
aquela diagonal no corpo ex-seco.


do que me sai nesse momento em palavra portátil e tropeço da alma poemada: filete de linguagem traduzível apenas a não razão dos mergulhantes.

sábado, 15 de novembro de 2008

ladeira narrativa

um clips no chão
uma moça avisando no celular
uma bunda grande no jeans
o cobrador de ônibus mexendo no canto da unha
a moça sorri o ônibus para
e eu tentando fazer parte de todas essas coisas
passageira
cada todo que já foi
estar nessa agora
já desci
a grade
rua
árvores
lixo
lixos
passos
ladeira
descer a ladeira
deixar o fim da ladeira
para quando o fim da ladeira


útero, a lágrima e estopins

ao pé da saudade brotam girassóis com úteros proliferados, eles, se quer foram plantados. agora enxergo que são sementes do tamanho do sol em energia e quentura. não entendo a física para saber se energia e quentura são as mesmas formas de dois dizeres. sei que o que vai é intenso e devora. é um pré-jardim desiludido de fadas, é um jardim que acredita nos úteros, nos insetos e seus dizeres, no jardineiro e sua devoção.

31/08/2008

desaconteceu  uma lágrima do meu olho, fugitiva, inesperada. uma lágrima solidão por ora.
rasguei-a em mil pedaços de água e seu sal rebento,
um lustroso aconteceu no meu olhar descontrolado, uma solitude  resolvida e este poema sobre a lágrima e seu molhado miltidizeres.
seu molhado estar só-por-ora, estar um, então tudo o é inteiro, assim, até a lágrima.

28/07/08





algum novo, já não mais semente, broto de título inédito se faz no meu dia. arranca-me alguma certeza muda, confiante, não sei, não vi e existe, me disseram estratagemas esotéricos das consultas de alguns muitos dias insolucionáveis.
dizem essas vozes, calma, ordem de silêncio, muda, sem entrelinha do não som. apenas a novo, visto a olho nu,  estopim.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tenho por hábito converter o tempo em poesia, mania de menina, desde quando achava que a voz alta-gritada da minha mãe era por motivo de um microfone dentro dela, instalado na garganta, ou de antes ainda, em meses de vida, quando comia baratas descobrindo o chão da casa. minha mãe e toda sua poesia tentou salvar-me com uma mangueirada da água na garganta, como uma cachoeira nas cordas vocais. Essas experiências, extra-sensoriais devem ter afetado meu senso de palavra.

Trecho de META-POESIA- Repalavrada.
Vou postar inteiro ainda.