terça-feira, 28 de abril de 2009

Onomatopéicos (segunda-feira, às oito e cinco da manhã)

três ruídos ao mesmo tempo
duas crianças
uma mulher
Ruuuuuuuuuuuum
(de repente /esvoaçado/acompridado)
ai que barulho
(a mulher perguntou)
barulho de banana
(diz o pequeno)
de avião
(diz o outro)
já é barulho de preguiça
(diz ela)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

de paz
prefiro-me assim:  
afeita a desastres ruindo em percepções
acalma-me
GOSTARIA QUE MINHAS INTERJEIÇÕES fossem entre listas de mercado, listas são mais arroz, pão, detergente. nada vago, limitado. é para lavar os lençóis, receber as visitas, encher a casa de manhã-café, o cheiro. gostaria apenas desses limites, preciso de fósforo (e apenas) a vela se para fazer uma prece ou atear fogo a sala? ultrapasso o limite da lista, do sal, da cachaça, ultrapasso o limite substantivo, penetro. os objetos se desobjetam, furo na precisão, apenas desejada, que gostaria entre as listas de hoje. nada vago, pelo menos hoje. 

TABACO SANGUINEO

Enquanto fumo lenta,
puxo a fumaça
alisada dalgum pensamento
escandaloso,
Meu corpo está deitado de lado
com um braço ao longo do deitado
agarrando o lençol
o outro braço
jogado para trás
com a mão na nuca
pressionado a vértebra saliente
(sétima, a chamam)
lenta
Abro os olhos,
vejo bolsa e chão
livros, criado-mudo
o grampo solto-livre da minha cabeça.
Nunca fumei.
Fecho os olhos  
esses duplos ainda estão
ao mesmo tempo
fumando, sentados
Deitada
atada-a-si.
O caimento dos ombros
a dobradura das pernas
a dor nos joelhos
Respiro lentamente
tragando o tabaco
e nada-mais-de-pé
só esses ventres silenciosos
desalinhados
e o vácuo desdém com o restante em que vazo
da boca
a fumaça
do útero
o sangue
(endométrio, o chamam)

Mafê Monteiro
15/04/09


segunda-feira, 13 de abril de 2009

CHOVEU, e a cidade parou em pire-paque, alagou às cinco da tarde a alma farta de uma cidade que dormia em movimento. tudo não pode ser em pontualidade e funcionamento. tudo não pode ser. pessoas molhavam seus pés acontecendo em águas. vendedores de guarda-chuvas, apareciam como sempre, brotando do chão, as dezenas, nas esquinas, pessoas e pessoas fora de seus comuns, emburradas, emburrecidas, assistindo o céu escorrer enquanto seus corpos embrutecidos pelo esquecimento paravam no tempo  de fim de tarde enquanto telhados molhavam o vasto concreto, protegidas, vastas de silêncio, gotejando olheiras sob as nuvens derretendo um escândalo a céu aberto:
pessoas chovidas no mesmo lugar.

Mafê Enchente
17/03/09

sábado, 11 de abril de 2009

RIR UMA RISADA E DEPOIS, o Riso

terminando de esvaziar cremosamente lenta como entender uma piada mal contada e rir uma risada retardada, inconvicta e podre de falsa.
para além vazia, recomeçar tranqüila latente a encher-me de riso, primeiro o sorriso que escapa da surpresa de algum entendimento, que acontece as quinze e vinte, entre um lugar e outro do meu dia.
o inesperado-já, deste modo, em riso de todas as mortes que tem me acontecido, assim, entre uma coisa e outra, a entender o novo(íssimo) da minha ordem de comungar o mundo em alegre espanto.
21/03/09

QUILOMETRAGEM

fixa.
vaidosa
fixidez
vaidade
eu meu eu
querido idiota
abandonando-me
latejando se selvas
um cordão umbilical
de fios magnéticos e ramagens
vazando leite de porco e ovo de vaca
esvaziamento
zunindo elefantes e suas penas de coitados
assim é meu sentimento de manga entre dentes
derretendo deus
e o Nada
quilômetros sem gritados
e lágrimas sem vexame
tudo ali
compondo no chão
esparramamento
eu
na quina do canto da parede rosa- não- rosa,
contemplando tímida
(ainda)
o escândalo em que me abandono
baixaria sem convicção
um bordel de objetos e espelhos mal olhados
um susto de quilômetros de gritos engasgados
na goela
roseiral
no fundo
despretendida e intencionada até no gesto
na voz
quilômetros de abelhas cuspindo fogo
cheirando a vento
misturando-se as plantas
verdes de pétalas
(chamuscadas)
insuspeitáveis na existência
lama