sexta-feira, 24 de abril de 2009

TABACO SANGUINEO

Enquanto fumo lenta,
puxo a fumaça
alisada dalgum pensamento
escandaloso,
Meu corpo está deitado de lado
com um braço ao longo do deitado
agarrando o lençol
o outro braço
jogado para trás
com a mão na nuca
pressionado a vértebra saliente
(sétima, a chamam)
lenta
Abro os olhos,
vejo bolsa e chão
livros, criado-mudo
o grampo solto-livre da minha cabeça.
Nunca fumei.
Fecho os olhos  
esses duplos ainda estão
ao mesmo tempo
fumando, sentados
Deitada
atada-a-si.
O caimento dos ombros
a dobradura das pernas
a dor nos joelhos
Respiro lentamente
tragando o tabaco
e nada-mais-de-pé
só esses ventres silenciosos
desalinhados
e o vácuo desdém com o restante em que vazo
da boca
a fumaça
do útero
o sangue
(endométrio, o chamam)

Mafê Monteiro
15/04/09


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